Tuesday, June 14, 2011

As novas gerações de alunos



Os alunos das gerações mais jovens, nascidos a partir de 1980, cresceram cercados de diferentes tecnologias digitais que continuam a moldar o modo como vivem, pensam, aprendem e interagem. São vários os termos usados para descrever a geração actual de alunos e os seus estilos de aprendizagem que vêm sendo alterados em virtude das tecnologias digitais indissociáveis do seu quotidiano. Entre a variedade de termos figuram expressões como “Nativos Digitais” (Prensky, 2001a), “Geração Net” (Oblinger & Oblinger, 2005; Tapscott, 1998), “Geração Millennium” (Dede, 2005; Pedró, 2006, 2009), “Geração Polegar” (Rheingold, 2003) ou “Geração Móvel” (Moura & Carvalho, 2008a; Moura, 2009a; Tremblay, 2010), contribuindo todas elas para evidenciar diferentes aspectos do mesmo fenómeno.
A maioria das actividades quotidianas da actual geração de alunos está relacionada com tecnologia e com a participação em redes sociais. Muita da gestão de conhecimento que os jovens actualmente realizam fora da escola é mediada por tecnologias. A popularidade das mensagens instantâneas, das redes sociais e outras ferramentas da Web 2.0, como os blogues ou as Wikis, deve-se às mudanças na forma como esta geração pode aprender, comunicar e divertir-se (Pedró, 2006). Segundo Redecker (2009), embora haja discrepâncias entre os perfis tecnológicos dos membros desta geração de alunos, reflectindo a fractura digital existente em diferentes países, há dados provenientes de diferentes fontes que indicam a existência de mudanças nas atitudes, estilos e padrões de aprendizagem, com grande impacte na aprendizagem.
Algumas das características mais marcantes desta geração têm vindo a ser discutidas. Redecker (2009) descreve nove dessas características:
Uso da tecnologia - Esta geração sente-se confortável a usar várias tecnologias em simultâneo (Prensky, 2001a). Por ter crescido com a Web tem experiência no seu manuseamento e gosta de estar “always on” (Traxler, 2005a, 2009). Não obstante, Oblinger e Oblinger (2005) chamam a atenção para o facto de embora sentirem alguma facilidade a usar tecnologia, sem manual de instrução, a sua compreensão e valor da tecnologia é superficial. É aqui que o papel do professor é fundamental.
Multitarefa – Refere-se ao processamento simultâneo de duas ou mais tarefas através de um processo de mudança de contexto. É a habilidade de realizar multitarefas. Para eles a multitarefa é a abordagem normal no uso dos media digitais, como seja estar online e ao mesmo tempo ver TV, falar ao telemóvel e fazer os trabalhos de casa. A variedade de dispositivos digitais e interfaces em que actuam incentiva a multitarefa (Dede, 2005). Movem-se rapidamente de uma actividade para outra e muitas vezes executam-nas em simultâneo (Oblinger & Oblinger, 2005). Em consequência, os seus padrões cognitivos estão a mudar. Esta geração não pensa de forma linear e parece ser menos estruturada do que as gerações anteriores (McLester, 2007). Os jovens adquirem conhecimento através de um processo descontinuado, informação não-linear, o que altera profundamente os seus estilos de aprendizagem (Pedró, 2006). Dede (2005) adverte para o facto da multitarefa poder resultar numa sobrecarga cognitiva e perder a sua eficácia. Tudo depende da forma como for usada a multitarefa. Se resulta numa forma superficial e distractiva de obter informação ou numa forma sofisticada de sintetizar novos conhecimentos. Ellis et al. (2010) realizaram uma experiência para analisar se o multitasking na sala de aula afecta o grau de desempenho dos alunos. Metade dos participantes foram autorizados a realizar outras tarefas, como por exemplo poder enviar mensagens de texto durante a aula, enquanto que à outra metade isso não foi permitido, estando obrigada a concentrar-se apenas no desenvolvimento da aula. Os dados indicam que os resultados dos exames dos alunos a quem foi permitido realizar multitarefas são significativamente inferiores relativamente aos resultados dos alunos que não tiveram autorização para a multitarefa na sala de aula. Para estes autores a multitarefa na sala de aula é considerada uma distracção que pode resultar em menor desempenho dos alunos e que é preciso ter em consideração.
Individualização e personalização – As tecnologias, em especial, os dispositivos móveis estão a permitir um aumento do acesso à informação em qualquer lado e a qualquer hora. Também permitem um acesso “just-in-time” ou “ just-for-me”. Isto pode ser a base para a individualização e personalização da aprendizagem. É a base para uma aprendizagem fragmentada e isolada. Siemens (2006, p. 72) sintetiza esta tendência através da expressão “The rise of the individual”, por considerar que os indivíduos têm agora maior controlo, maior capacidade para criar e para se conectar do que em qualquer outra época da história. Para este autor as relações são definidas por conveniência e interesse e não geograficamente. Podemos trabalhar onde e quando queremos. O tempo e o espaço deixam de ter limites. Prensky (2005) considera ser necessário que a sala de aula capitalize as capacidades e competências individuais dos alunos, caminhando no sentido da instrução personalizada, continuamente adaptada às formas de aprender de cada aluno. Como observa McLester (2007), esta geração de alunos é extremamente social, mas também egocêntrica e esforça-se por se tornar independente.
Hiperconectados – Os alunos desta geração gostam de estar sempre disponíveis, sempre conectados, “always on” (Oblinger & Oblinger, 2005). Comunicam por SMS, estão online nas redes sociais ou no MSN, tudo em simultâneo. Este aumento da conectividade estreita os limites entre o mundo real e o mundo virtual (Siemens, 2006). Para Prensky (2005), a adaptabilidade, conjugada com a conectividade, é onde a tecnologia digital mais impacto terá na educação. Tapscott (2008) no seu livro “Growing up digital” diz que os jovens navegando na Internet deixam de ser os passivos espectadores em frente à televisão, como foram os seus pais, e isto vai transformar os seus cérebros.
Imediatismo – Como refere Siemens (2006, p. 74) “the world has become immediate”. O imediatismo é outra característica desta geração que em virtude da exposição a diferentes meios de comunicação (conversas ao telemóvel, SMS, MSN), espera respostas imediatas e reacções rápidas. Esta situação de comunicação é vista com normalidade por esta geração, que é extremamente impaciente (McLester, 2007). Este ritmo acelerado pode muitas vezes significar falta de atenção, na sala de aula, quando a aula deixa de ser tão interactiva, pouco desafiante ou lenta (Oblinger & Oblinger, 2005). Acostumados a muitos estímulos facilmente se enfadam na sala de aula tradicional. Prensky (2005) reforça esta ideia ao referir que, cada vez mais, os nossos alunos deixam de ter os pré-requisitos para uma verdadeira aprendizagem (o envolvimento e a motivação), porque a escola não os envolve, nem os motiva.
Múltiplos tipos de media – Os alunos de hoje dominam uma variedade de ferramentas (computador, calculadores, leitores de MP3 ou MP4, telemóveis) que são como extensões dos seus cérebros, por isso educar sem estas ferramentas não faz sentido para eles (Prensky, 2005). Esta geração tem estado exposta a múltiplos tipos de media desde a mais tenra idade e como consequência são visualmente mais estimulados do que as gerações passadas e estão mais confortáveis em ambientes ricos em imagens do que com texto, como assinalam Oblinger & Oblinger (2005). Para estes autores, muita da leitura feita pelos jovens é feita na Web. Esta geração considera os conteúdos multimédia, pela sua natureza, de maior valor do que o texto simples. Na opinião de Prensky (2005) os jovens usam no dia-a-dia novos sistemas de comunicação (SMS, MSN, chat), partilham (blogues), compram e vendem (eBay), trocam (P2P), criam (flash), coleccionam (downloads), coordenam (wiki), reportam (telemóvel), pesquisam (google), socializam (salas de chat) e aprendem (navegando na Web). Para este autor é preciso que os professores ajudem os alunos a beneficiar destas ferramentas e sistemas para os educar para o futuro.
Empenho e atitude de trabalho – Os jovens gostam mais de aprender fazendo, do que se lhes diga o que fazer. Preferem fazer coisas do que pensar ou falar sobre coisas (Oblinger & Oblinger, 2005). Uma parte dos alunos considera que a única função da escola é fornecer-lhes um diploma que os pais lhes dizem que eles precisam. Mas muita da aprendizagem faz-se “depois da escola”, é onde os jovens aprendem sobre o seu mundo e se preparam para a vida do século XXI, como menciona Prensky (2005). Para este autor é preciso ouvir a voz dos alunos e ter em conta as suas opiniões e fazer mudanças com base nas válidas sugestões que oferecem, senão “we will be left in the 21st century with school buildings to administer—but with students who are physically or mentally somewhere else” (pp. 5-6). Como consequência da sua natureza social, estes jovens preferem, a maior parte do tempo, aprender e trabalhar em equipa, sendo que muitas vezes os pares têm mais credibilidade do que os professores (Oblinger & Oblinger, 2005).
Sociabilidade e espírito de equipa – Os jovens estão abertos à diversidade, diferenças e partilha (Oblinger & Oblinger, 2005). Facilmente falam com estranhos na Internet. Porém, este sentido de sociabilidade precisa de sentido de segurança também.
Novas competências para a era digital – Os alunos de hoje mudaram relativamente aos do passado, do ponto de vista de Prensky (2001a, s.p), “Our students have changed radically. Today’s students are no longer the people our educational system was designed to teach”. Segundo Siemens (2006), os jovens vivem num mundo caracterizado por uma sobrecarga de informação e uma brecha, cada vez maior, no acesso à informação. Para este autor, “Our conceptual world view of knowledge – static, organized, and defined by experts – is in the process of being replaced by a more dynamic and multi-faced view” (Siemens, 2006, p. 3). As múltiplas fontes de informação que existem na Web obrigam a um desenvolvimento de competências de pesquisa, triagem, validação e síntese, muito diferente da assimilação da informação de uma única fonte de conhecimento a partir do manual, televisão ou professor (Dede, 2005; Siemens, 2006). A natureza não-linear dos ambientes digitais, introduzida pela tecnologia hipermédia, leva a novas dimensões de pensamento e de aprendizagem, diferentes da forma linear como se lê em papel.
Conhecer e compreender a Geração Polegar é fulcral, para criar condições propícias à aprendizagem e ao envolvimento dos alunos. Alguns teóricos da educação (Dulay & Burt, 1977) consideram que os alunos retêm o que aprendem quando a aprendizagem está associada a uma forte emoção positiva. Estudos no âmbito da psicologia cognitiva (Christianson, 1992) mostram que o stress, o aborrecimento, a confusão, a baixa motivação e a ansiedade podem individualmente e mais profundamente em combinação, interferir com a aprendizagem. Nesta linha de pensamento Kohn (2004, pp. 44-45) adverte para o facto de:
"When students are engaged and motivated and feel minimal stress, information flows freely through the affective filter in the amygdale and they achieve higher levels of cognition, make connections, and experience “aha” moments. Such learning comes not from quiet classrooms and directed lectures, but from classrooms with an atmosphere of exuberant discovery."
Ninguém duvida que esta geração de alunos é diferente das anteriores, por estarem constantemente conectados à Internet e com o seu telemóvel. Apesar de muita gente pensar que são individualistas, descuidados, que a escola não lhes interessa, a realidade é diferente. Os media e as empresas sabem disso e estão a mudar a sua metodologia de aproximação, para os manter interessados, no entanto, a escola continua a fazer quase o mesmo que há décadas antes quando se instituiu a escolarização formal.

No comments:

Post a Comment

Note: Only a member of this blog may post a comment.