Saturday, April 23, 2011

Aprendizagem num contexto de mobilidade


Com o desenvolvimento e proliferação de novas tecnologias, muita investigação tem sido realizada nos últimos tempos, sobre como as pessoas usam as inovações tecnológicas. Em virtude da evolução das tecnologias móveis, surgiu uma preocupação na investigação para explorar a forma como estas tecnologias podem ser melhor utilizadas como ferramentas de aprendizagem (Kukulska-Hulme, 2009; Sharples, 2005) e como o seu desenvolvimento e utilização têm sido moldados por factores sociais e culturais (Harper, 2002; Waycott, 2004).
Alguns autores sugerem que as tecnologias móveis transformarão a educação nos próximos tempos (Soloway et al., 2001). Mas para que estas tecnologias possam ser utilizadas eficazmente é preciso compreender: i) como os alunos utilizam as tecnologias que guardam nos bolsos; ii) como se sentem relativamente a essas tecnologias; iii) as possibilidades e limitações que apresentam e iv) como estas tecnologias alteram o local de aprendizagem e as actividades que suportam.
O telemóvel tem provocado novas formas de interacção social e diminuição das barreiras espaciais. O facto de podermos estar contactáveis a qualquer hora e lugar, veio alterar a sociedade e configurar as nossas relações sociais. Por este motivo, este dispositivo tem sido estudado quer como tecnologia, quer como artefacto social (Kukulska-Hulme & Traxler 2005; Naismith et al. 2004; Nix, 2008; Sharples, 2006; Waycott, 2004). Uma experiência realizada no Reino Unido (Attewell, 2005) apresenta o telemóvel como um meio eficaz para formar jovens, em particular os que encontram dificuldades sociais. A profusão das tecnologias móveis e a sua aceitação pelos estudantes, pode abrir novas perspectivas pedagógicas. O telemóvel apresenta, graças à sua omnipresença, a vantagem de oferecer o que Metcalf (2002) designa por “Stolen moments for learning”, enquanto se viaja de autocarro ou comboio, se aguarda no consultório ou se espera na paragem.
A aprendizagem num contexto de mobilidade, interessa-se pela conectividade contínua dos aprendentes com o seu ambiente de aprendizagem (Alexander, 2004), no entanto, esta conectividade pode nem sempre ser conveniente, pela interferência inoportuna em certos momentos do dia. Isto levanta a questão do significado do que é estar online e offline.
Com o desenvolvimento das tecnologias móveis, surge o conceito de mobile learning, um eixo de investigação importante no domínio dos ambientes informáticos para a aprendizagem humana (McLean, 2003). Laouris e Eteokleous (2005) consideram haver necessidade de uma definição de m-learning educacionalmente relevante. Para estes autores é preciso que essa definição seja “in both a systematic and a systemic way” e explicam:
“The requirement “systematic” will translate into considering each term (“mobile”, “learning”) in isolation as well as in concert (i.e., “mobile learning”). The requirement “systemic” will translate into considering the whole environment in which mobile learning unfolds, i.e., the inter-relations and interactions between technology, the learning environment, the philosophy, the pedagogy” (Laouris & Eteokleous, 2005, p. 2).
São vários os estudos realizados na última década sobre experiências de m-learning em contexto formal e informal que reportam resultados positivos, bem como a aceitação das tecnologias móveis por parte dos alunos (Attewell, 2005; Cavus & Ibrahim, 2009; Kukulska-Hulme, 2009; Sharples, 2006; Song, 2008; Yousuf, 2007; Waycott, 2004). Todavia, as limitações dos dispositivos móveis têm condicionado a sua adopção generalizada, que se prendem com o tamanho pequeno do ecrã e do teclado, o desempenho limitado em termos de capacidade do processador, a memória disponível, o espaço de armazenamento e o tempo de bateria. Quando possuem ligação à Internet a conexão é lenta e a maioria das páginas Web não está redimensionada para ser vista em ecrãs pequenos, para além da existência de poucos conteúdos de aprendizagem para m-learning. Também os múltiplos standards, tamanhos de ecrã e sistemas operativos mobile constituem alguns desafios técnicos a ultrapassar. Poder-se-á dizer que as limitações são uma combinação de desafios técnicos e de educação. Porém, algumas dessas desvantagens podem desaparecer à medida que a tecnologia melhora.
As previsões apontam para a continuidade da evolução das tecnologias móveis. Segundo especialistas da Gartner, em 2013, haverá mais smartphones a aceder à Internet do que PCs. O relatório de previsões e tendências desta empresa calcula que mesmo depois desta data os smartphones e outros dispositivos móveis (Ultraportátil, Tablet PC, PDA, etc.) com acesso à Internet continuarão em ascensão.
Deste ponto de vista, à entrada da segunda década do século XXI é fundamental uma nova perspectiva de actuação na sala de aula, bem como políticas educativas consentâneas com as exigências da sociedade do conhecimento e da era digital. Há necessidade de repensar a educação na era da tecnologia móvel, porque o mundo educativo está a passar por uma grande transformação, como resultado da revolução digital, como referem Collins & Halverson (2009). Para estes autores, esta transformação é semelhante à transição da era da aprendizagem para a escolarização universal, ocorrida no século XIX, como consequência da revolução industrial. A escolarização levou as pessoas a identificar a aprendizagem com a escola, porém esta identificação está-se a diluir, muito por causa da evolução tecnológica ocorrida. No entanto, em algumas situações parece que vamos mudando mais os equipamentos do que muitos dos procedimentos.

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